Crise é a palavra de 2015. Mas nela pode estar o terreno ideal para empreendedores darem uma guinada nos negócios, apostando em produtos com bom valor agregado, de fácil consumo e com grande aceitação. Em Florianópolis, o ramo de gastronomia é dividido claramente entre dois blocos: os que sofrem com crise e os que não têm o que reclamar, algo inusitado em épocas de vacas magras.
Quem apostou em diferenciais em nos dois últimos anos “criou um escudo” contra a crise que assolou o país em 2015. “No cenário nacional, Florianópolis vive em ‘oasis’ dentro da crise, pois aqui é pequena perto do que está acontecendo no Brasil”, explica Fábio Queiroz, presidente da ABRASEL-SC (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).
A retração da economia mudou a vida dos brasileiros segundo o Instituto Data Popular. Para 88% dos entrevistados a crise já afeta a vida pessoal.
A ideia não é nova: apostar no micro em vez do macro. E aprender e se adequar à realidade para manter o valor e a qualidade, já que o consumidor está mais seletivo com os gastos. “Quando você tem um produto que cabe no bolso e tem um apelo visual e comercial e visual muito grande, fica mais fácil de vender”, salienta o jovem empresário Fernando D’Aquino Machado, da Fairyland Cupcakes, que já cresceu 20% em 2015 em relação aos anos anteriores e nos finais de semana chega a atender 1500 clientes por dia. O vizinho May, um charmoso restaurante tailandês à beiramar, mantém a clientela de 2014 graças ao conceito de cozinha asiática com charme.
Entre os tradicionais, o Bistrô DAcampora, no Norte da Ilha, sedia eventos corporativos e casamentos, mas, para atender pedidos de clientes e amigos, intensificou o trabalho de restaurante com a chegada do novo chef, Fábio Coelho.
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Para 88% dos entrevistados do estudo, a crise já afeta a vida pessoal, sendo que 88% também afirmam ter mudado de comportamento para reduzir custos. Mas a diversão e a comida, de alguma forma, estão na vida das famílias. É aí que entra a criatividade dos empresários degastronomia, seja de confeitaria e até de carnes rústicas.
A classe média corta gastos, mas os gastos abaixo de R$ 80 com entretenimento – os chamados “supérfluos” do orçamento - são mantidos. A partir de R$ 59,90, o clube de cervejas especiais Beer King entrega combos de cervejas especiais em todo o Brasil. E a demanda não para de crescer.
Alguns empresários abriram seu negócio em 2015, quando explodiu a esperada crise. Sem arrependimentos. A experiência de Leila Pinheiro, Angela Monguilhott e Bel Hagemann com o Boteco Zé Mané, na orla do bairro Coqueiros, lado continental da capital catarinense, resultou na abertura, no mesmo bairro, do mexicano Tequilaville. O desempenho está dentro do business plan traçado em 2014, com ocupação média do salão em 70%, graças ao tripé: qualidade do produto, atendimento e boa relação custo x benefício. Outro estabelecimento que abriu este ano e contraria os prognósticos pessimistas é o Las Leñas, especializada em churrasco uruguaio (chamado "parrilla"), no Shopping Iguatemi: querem, e estão conseguindo, fidelizar a clientela, composta por adultos acima dos 30 anos.
O setor de comércio e serviços do qual os restaurantes fazem parte constam é o segundo maior gerador de riquezas de Florianópolis, atrás apenas da tecnologia da informação.
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Confit de pato, prato tradicional do Bistrô DAcampora. Crédito- Fernando D. Machado